Este livro, ANCESTRALIDADE E DIÁSPORA: LEMBRANÇAS E CAUSOS, é um convite no qual Ivo Queiroz nos abre as portas de uma intimidade profunda. Essa capacidade de mostrar o próprio eu corajosamente desnudo é, sem dúvida, admirável. Entretanto, o livro que está em suas mãos não é sobre a história do “eu”. As lembranças e causos vividos pelo autor nos conduzem a uma “reflexão encarnada” a respeito de um conceito central da filosofia afro-diaspórica: a ancestralidade. É importante ressaltar que o autor descreve a rica experiência da ancestralidade que conduziu à reconstrução de sua família. Contudo, à medida que Ivo passou a percorrer as estradas da vida, encontrou manifestações da ancestralidade em outras pessoas. Assim, sua experiência de família foi ampliada e ressignificada após o encontro e o envolvimento de amizade com Seu Pedro, Dona Maria e o Mano Peba. Em seu relato, brilha a Ancestralidade como espiritualidade que vai além dos laços de sangue. O autor ousa compartilhar a reflexão radical que lhe permitiu compreender seu lugar nessa comunidade ancestral e nos inspira uma coragem de mesma proporção. Trata-se, sim, da coragem de estar frente a frente com a perversidade que impôs ao nosso povo o “esmagamento físico e moral durante a escravidão criminosa” e que se atualiza em um cenário propício à perpetuação dos efeitos desse crime. Porém, mais do que isso, trata-se da coragem de refletir sobre o próprio lugar no processo de reconstrução que reúne, na mesma comunidade ancestral, diversas gerações, em busca da plenitude humana usurpada pela dominação. A “ancestralidade dinâmica” nos ensina que o resgate da própria humanidade não é uma busca do sujeito “só”. Ao contrário, essa coleção de narrativas em primeira pessoa convida cada um, todas e todos a assumir o compromisso de “filosofar na fidelidade”, o que supõe a ação. Nela, você encontrará um exercício desse filosofar e uma fonte inspiradora da esperança que mantém viva a luta.